Ágatha não costumava assistir apresentações musicais em grandes teatros. Mas naquela noite ela não poderia negar o pedido de uma de suas amigas, Karen, uma musicista da orquestra, e essa seria sua peça de estréia no Teatro Nacional Cláudio Santoro, o teatro Cartão Postal que não só chama atenção por estar no centro de Brasília, mas também por sua imponência arquitetônica que traz uma vaga lembrança de uma pirâmide do Egito.
Ágatha refletia nisso enquanto pegava seu ingresso na bilheteria e esperava mais amigos para acompanhá-la na sua noite de música “clássica”. Ela estava acostumada somente a um bom Rock com batidas nítidas da bateria e dos sintetizadores exagerados comuns do rock dos anos 80. Ela queira ter trazido seu MP3 para escutar mais uma música do New Order. Aquela noite não teria sintetizadores e talvez nenhuma bateria, mas teria o melhor da técnica musical sendo compartilhada por mais de 40 instrumentos musicais tocados por grandes profissionais da música. Karen havia lhe dito que Rachmaninov estaria no repertório daquela noite.
O hall do teatro estava lotado. Ela nunca pensou que haveria tantas pessoas que gostavam da música erudita. Bom...ela não gostava tanto, e ainda assim estava ali junto com aquelas pessoas. Ela resolveu ir tomar um ar para assim se acalmar dos ânimos agitados daquelas pessoas ansiosas para entrar na sala Villa-Lobos, então se dirigiu ao estacionamento sul do teatro. Este local dá uma bela vista à todas as edificações famosas de Brasília. De onde ela estava se via o Museu, a Biblioteca, A famosa Catedral, a Esplanada dos Ministérios, e por fim, como um ponto branco que ilumina o horizonte negro, estava o Congresso Nacional, que em sua opinião, era belo por fora, mas podre por dentro.
Ágatha era aluna de Artes Plásticas. Pretendia, obviamente, ser uma artista, mas a arte é um palavra muito pequena para um conceito tão grande. Ela simplesmente não sabia que caminho da arte seguir ainda em seu começo de curso. Mas tudo que ela sabia até aquele momento já servia da alavanca para apreciar a arte que estava ao seu redor. Mesmo muitas pessoas odiando a Rodoviária, em sua opinião, aquele era um lugar de supremacia arquitetônica.
Mais uma vez, a jovem artista olhou o horizonte, e resolveu terminar sua observação olhando para o Teatro em si. Sua Construção. Suas linhas, e claramente, os cubos de Athos Bulcão que harmonizavam com todo o edifício. No topo do teatro, ela viu uma pessoa no parapeito, como se também observasse a paisagem que há pouco ela também vira. Ágatha se perguntara sobre o que tinha no topo do Teatro Nacional. Um Camarim? Um Mirante? Uma sessão proibida? Ela conjeturou em busca de uma resposta que ela tinha certeza que não encontraria. Assim resolveu voltar para o hall à espera do concerto, mas ao caminhar, ela escutou um estampido rápido e alto. O estouro veio do mirante do Teatro. Automaticamente ela olhou pra cima.
A mulher do mirante pareceu atordoada, como se não conseguisse ficar em pé. Ela tentou permanecer, mas não conseguiu, e com um forte impulso, ela se jogou para frente, caindo do parapeeito, rolando rapidamente pelo cubos do Balcão, rachando suas costas e braços e cada cubo que ela batia. Os cubos mancharam-se de um vermelho vivo a cada cubo pela descida brusca daquela mulher. Até que ela cai com força no chão gramado. A mulher estava imóvel no chão.
As pessoas ao redor estavam perplexas e sem reação, até que uma mulher gritou. Gritou com todas as suas forças quando viu o corpo morto e desconstruído diante de si. Ágatha, como as outras pessoas, estava imóvel. Não sabia o que fazer diante daquela situação. Pessoas já ligavam para a polícia, bombeiros e ambulâncias. Uma multidão começou a aparecer para olhar aquela tragédia que tinha acontecido. A jovem artista olhou para os cubos do teatro. Manchas de sangue eram nítidas fazendo um caminho retilíneo e ao mesmo temo desigual desde o topo até ao chão. Aquela obra era agora uma Arte com Sangue.
Ágatha não sabia se o concerto havia começado ou havia sido cancelado. Ela continuou lá. Olhando o corpo enquanto a polícia chegava. A face estava vermelha e irreconhecível. Não era possível saber quem era aquela pobre vítima. Ao chegar, a polícia faz seu trabalho de investigação. Questionou todos os que testemunharam a cena. Ágatha foi uma das poucas que viu a cena desde o início ao fim. Infelizmente ela era uma testemunha em potencial.
“Você conhece a senhora que caiu?” Peguntou um policial. “Não, ela estava irreconhecível”, respondeu Ágatha imediatamente. “Seu nome era Norma Oliveira, outros me disseram que ela é professora de artes. Você a conhece?” continuou o policial.
Ágatha ficou perplexa. Pois Norma Oliveira não era só uma professora, era Sua professora! E a pior parte não era essa. Ela era mãe de Karen, a musicista.O fato de esta ser mãe, aumentou a amizade que as jovens tinham. Ágatha considerava Norma como sua própria mãe. Ao ver o quão ruim era aquela situação, ela olhou ao seu redor. Ela viu Karen ao prantos nos braços de seu pai. Várias daquelas pessoas que estavam ali sendo barradas pela polícia conheciam Norma Oliveira. Seu mundo desabou. Os cubos ainda
estavam nítidos em sua visão.
“Ela se jogou lá de cima”, dizia Ágatha para si mesma enquanto lágrimas desciam sobre seu rosto, o policial a olhava com pena, mas respondeu de forma séria: “Desculpe-me lhe atrapalhar, mas a senhora não se suicidou. Ela foi assassinada”.
“Como assim?” Perguntou a jovem ainda sem entender.
“Ela levou um tiro na barriga”, disse o policial, “ela perdeu muito sangue lá em cima, isso já está confirmado. A descida pela parede do teatro apenas acelerou sua morte”. Ao terminar essa afirmação, o policial terminou seu questionário e se retirou.
Ágatha se viu agora sozinha. Ela foi em direção à Karen que ainda chorava muito e então as duas amigas se abraçaram, permanecendo assim por muito tempo. Ágatha fazia sentenças firmes: “Sinto muito Karen, eu também amava muito a Norma. Essa dor é mútua, estarei aqui por você".
“É tão difícil de acreditar... É tanta dor que sinto... Ó Deus faça isso parar.” Dizia Karen em frases silenciadas pelo choro.
Ágatha olhou o rosto da amiga e disse: Karen, seja quem for que fez isso à sua mãe, que também é minha mãe, esse vai pagar o preço. Eu juro a você que descobrirei quem foi o desgraçado Karen”. Disse a jovem artista ao rosto choroso de Karen.
“Eu juro Karen. Nem que eu mate pra que essa nossa dor pare”.
A multidão começou a se dissipar. O trânsito do Eixo monumental diminuía e a hora passava mais rápido, mas os cubos do Teatro Nacional ainda estavam manchados de sangue.
Ok pessoal, a crônica, é estranha, mas eu sou estranho,então está tudo nos eixos. Mas acho que finalmente achei um objetivo pro blog. Eu gostaria muito de continuar a história da Ágatha. e também gostaria de escrever outras crônicas, por isso peço para que comentem sugerindo opiniões, fazendo críticas, elogiando, ou qualquer coisa que possa motivar a continuação dessa crônica, no caso de terem gostado.
Comentem!